sexta-feira, 5 de outubro de 2012







O Amor (Vladimir Maiakovski)

(Tradução de Haroldo de Campos)

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos
apareça numa alameda do zoológico,
sorridente, tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela, que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas, que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado, seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.

Ressuscita-me!
nem que seja só porque te esperava como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me, nem que seja só por isso!

Ressuscita-me!

Quero viver até o fim o que me cabe!

Para que o amor não seja mais escravo de casamentos, concupiscência, salários.

Para que, maldizendo os leitos, saltando dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia, que o sofrimento degrada, não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo: - Camaradas! Atenta se volte a terra inteira.
Para viver livre dos nichos das casas.
Para que doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo; a mãe, pelo menos a Terra.

(1923)

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