segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sei que tudo é um jogo. Ou uma brincadeira, melhor. Às vezes um leilão de sentimentos. E quem dá mais por uma alma cansada de vagar sentindo dor? Eu pago o preço que custar para ser feliz de novo.

domingo, 9 de agosto de 2009

Insônia

Fotografias me fazem lembrar do momento exatamente como ele se deu. Engraçado, ultimamente parei na sessão nostalgia de me mandar para o passado e ver onde deixei meus pedaços. Alguns para trazer de volta, outros não, relembrar basta, como na canção, Basta de clamares inocência, de Cartola, belíssimamente interpretada por Elis Regina, aquela baixinha danada. Música é assim comigo, vai aparecendo no meio da história(rs).
Então hoje encontrei umas fotografias, dos tempos de uma Nikon analógica. A vida estampada em momentos estáticos. Como é possível que aquele papelzinho transporte-nos a lugares e tempos tão distantes? A fotografia eterniza tudo. Até aquilo que não queremos mais lembrar. Vou dormir que já é tarde.

O MORTO QUE CANTA

Há uma morte que vem de fora e uma morte que cresce por dentro. Cada uma delas produz uma dor diferente. Nas representações artísticas, como na tela terrível de Brueghel, a primeira que é representada - como cavaleiro de alfanje na mão. Ela chega sem ser convidada, como intrusa, nas mãos do assassino, no acidente que mata como um raio, na doença que entra e vai tomando conta do corpo, por mais que se tente mandá-la embora... Aparece como uma interrupção. No seu livro 'Lições de abismo', Gustavo Corção lamentava-se de que a vida não fosse como uma sonata de Mozart: curta, não mais que 20 minutos. E, no entanto, nesse curto tempo, tudo que há para ser dito é dito. Os últimos acordes nada interrompem. Apenas completam. O que se segue, então, é o silêncio da saudade, abençoadamente feliz, pois é o silêncio que vem depois da experiência da beleza. Que pena que a vida não seja assim... Pois o que acontece é que a sonata é abruptamente interrompida pela morte intrusa, um golpe de desarmonia bruta desferido por uma potência sinistra, surda à melodia que se queria cantar. E a sonata fica ali, quebrada ao meio, fragmento, caco, incompleta...
A morte do suicida é diferente. Pois ela não é coisa que venha de força, mas gesto que nasce de dentro. O seu cadáver é o seu último acorde, término de uma melodia que vinha sendo preparada no silêncio do seu ser. A primeira morte não foi um gesto; foi um acontecimento de dor. Mas no corpo do suicida encontra-se uma melodia para ser ouvida. Ele deseja ser ouvido. Para ele valem as palavras de César Vallejo: "su cadáver estava lleno de mundo". O seu silêncio é um pedido para que ouçamos uma história de cujo acorde necessário e final é aquele mesmo, um corpo sem vida.(...)"

Rubem Alves em 'O Quarto do Mistério'