terça-feira, 13 de novembro de 2007


Ontem eu cantei.
Baixinho, os vizinhos dormiam.  Mas cantei.  Lembramos Janis Joplin e Led Zeppelin, o início. Voltei a tudo que eu já havia sentido na vida com o vibrar de inúmeras cordas vocais e 12 de nylon. Entramos na madrugada sentindo a delícia da música percorrendo nossas veias; já não era mais sangue, e cada porção de silêncio consistia num barulho ensurdecedor e angustiante.  Fazer música, naquele instante, era tão vital quanto respirar.  O limiar da perfeição.  Como se eu sempre soubesse que é assim.
"If the sun refused to shine, I would still be loving you.
When mountains crumble to the sea, there will still be you and me.

Kind woman, I give you my all, Kind woman, nothing more.

Little drops of rain whisper of the pain, tears of loves lost in the days gone by.
My love is strong, with you there is no wrong,
together we shall go until we die. My, my, my.
An inspiration is what you are to me, inspiration, look... see.

And so today, my world it smiles, your hand in mine, we walk the miles,
Thanks to you it will be done, for you to me are the only one.
Happiness, no more be sad, happiness....I'm glad.
If the sun refused to shine, I would still be loving you.
When mountains crumble to the sea, there will still be you and me..."

Thank You - Robert Plant and Jimmy Page



domingo, 11 de novembro de 2007

A FACE OCULTA DA NOITE


"Temi sofrer retaliações caso revelasse que o enigma dos adolescentes pode ser decifrado se estudarmos o comportamento social e psicológico das maritacas...
Sim, as maritacas... Mesmo sob exame superficial, as semelhanças saltam aos olhos.
Para começar sempre andam em bandos, maritacas e adolescentes. Uma maritaca solitária e um adolescente solitário são aberrações da natureza. (...)
Depois, são todas iguais, as maritacas. E também os adolescentes. Você já viu uma adolescente se vestir diferente das outras para a festa? O tênis tem de ser da mesma marca. Os jeans, da mesma grife. (...)
Sabiás, no entanto, não padecem de crise de identidade. São aves solitárias e por isso cantam bonito de fazer chorar. Quando eles cantam, todo mundo se cala e escuta. As maritacas são o oposto. Gritam todas ao mesmo tempo. Deus o livre (não me livrou) de assentar-se próximo a uma mesa de adolescentes, na Pizza Hut... Dizem sempre a mesma coisa, dizem sempre igual, dizem sem parar. Mas eles nem ligam. Porque ninguém escuta mesmo.
E finalmente, maritacas e adolescentes não se importam com a direção que estão indo.
Importam-se, sim, com o "agito" enquanto vão."

sábado, 3 de novembro de 2007

Para amar alguém...



There's a light, certain kind a light, never ever, never shone on me. Honey, I want my whole life to be lived with you, babe, that's what I want was to be living and loving you.
There's a way, everybody say you can do anything, every thing. But what good,
Honey, what good could it ever bring? 'Cause I ain't got you with my love and I can't find you babe, no I can't.
You don't know, you don't know what it's like, no you don't, honey no, you don't know what it's like to love anybody. Oh honey, I wanna talk about love and trying to hold somebody the way I love you babe, and I've been loving you babe.

In my brain, I can see your face again, I know my frame of mind. But nobody, nobody has to ever be so blind, like I did, I know I was blind, I tell you that I was, I was very, very blind. Oh but I'm just a girl, can't you just take a look at me and tell, tell that I live and I breathe for you, don't you know I do!
But what good, what good, what good could ever do 'Cause I ain't got you, that's all I've ever wanted, and I ain't got you, but I've been looking 'round. But you don't know, you don't know what it's like, no you don't, you don't know what it's like to love anybody. Oh honey I wanna talk about trying to hold somebody when you're lonely the way I loved you, baby, and I just want you to know I tried.

Oh I know that there's a way 'Cause everybody came to me one time and said, "honey, you can do anything, every little thing", and I think I can. Oh, but what good, what awfully good can it ever, ever bring, 'Cause I can't find you with my love, and I can't find you, anywhere.
Oh, but you don't know, you don't know what it's like, No you don't and you never ever, ever did. You don't know, honey, you don't know what it's like oh, to love anybody. Oh, honey I wanna talk about trying to hold you.
...oh let me throw my love, throw my love all around you.


To Love Somebody - Janis Joplin

sábado, 29 de setembro de 2007

Música para o corpo e a mente

http://www.youtube.com/watch?v=kP_F6IYz0oI

Palavras, apenas palavras...

*
"Palavras o vento leva, mas o que é escrito fica" -- documentado na bendita folha de papel, já dizia o velho clichê...

Levadas ao vento ou eternizadas, as palavras têm uma incrível e estranha força de criar e destruir, cultivar ou ferir, alimentar sentimentos, emoções e desejos ou mostrar ausência deles... Elas são capazes de dar forma ao que existe dentro de nós, seja amor, ódio, alegria ou tristeza, graça ou desgraça.
Neste contexto o contrário da palavra, seria o silêncio. Não que o silêncio seja ruim, o silêncio fala quando quer, e, por vezes, nos faz ouvir o discurso mais profundo que poderia ser dito.
As palavras são essencialmente parte de nós, do que somos e sentimos, de nossas vivências, personalidade, cultura... Tanto é que elas se misturam com nosso caráter, e, na maioria das vezes, acreditamos ou não na veracidade do que é dito quando conhecemos o valor de quem o diz.

Por isso achei interessante o trecho abaixo retirado de um blog que conheci hoje e curti muito:

"O nosso encontro real se dá através das palavras. Só nas palavras, vão e vêm partes entre nós. E entre nós, desatamos a sangria e libertamos a manada, rasgando o espaço que agora - somente agora - é nosso, o novo espaço de nossa proximidade."


Christiane Oliveira

Jogo Rápido

Esta eu encontrei por aí...

“Por um mundo melhor: mate um hipócrita!

HIPOCRISIA. [do grego hypocrisia, pelo latim hypocrise + -ia] Subst. fem. (1) Afetação de uma virtude, de um sentimento louvável que não se tem. (2) Impostura, fingimento, simulação, falsidade. (3) Falsa devoção.

Hipocrisia fede. Incomoda. Nauseia. Hipocrisia é um câncer que corrói a vida e envenena o convívio social. Hipocrisia é a corrupção do conteúdo para justificar a forma. É , limpo por fora e podre degenerado por dentro.
Mate um hipócrita por dia!
Ele está ali, insidioso, aguardando um momento que seja conveniente dizer “eu creio” quando ele não crê, de apontar o dedo dizendo “eu acuso” quando ele próprio também é culpado, de distorcer o que é correto para justificar o que é conveniente.
Mate este maldito hipócrita! Ele suspira dentro de cada um de nós, quando queremos parecer melhores do que somos ao invés de nos tornarmos a cada momento melhores.
Fique atento. Quando ele sussurrar em seu ouvido “olha só, aqui tem uma oportunidade para se dar bem” sufoque-o e cale-o questionando: “o que é a coisa mais certa a fazer? O que é mais digno?” Aja segundo sua melhor consciência.
Olhe e sorria com sinceridade. Não existe maneira melhor de matar um hipócrita.

Para que o mal triunfe basta que o bem cruze os braços.”

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

...

QUANTO VALE A VIDA?

Quanto vale a vida de qualquer um de nós?
?quanto vale a vida em qualquer situação?
?quanto valia a vida perdida sem razão?
?num beco sem saída, quando vale a vida?

são segredos que a gente não conta
são contas que a gente não faz
quem souber quanto vale, fale em alto e bom som

?quantas vidas vale o tesouro nacional?
?quantas vidas cabem na foto do jornal?
?às sete da manhã, quanto vale a vida
depois da meia-noite, antes de abrir o sinal?

são segredos que a gente não conta
(faz de conta que não quer nem saber)
quem souber, fale agora ou cale-se para sempre

?quanto vale a vida acima de qualquer suspeita?
?quanto vale a vida debaixo dos viadutos?
?quanto vale a vida perto do fim do mês?
?quanto vale a vida longe de quem nos faz viver?

são segredos que a gente não conta
são contas que a gente não faz
coisas que o dinheiro não compra
perguntas que a gente não faz:
?quanto vale a vida?

nas garras da águia, nas asas da pomba
em poucas palavras, no silêncio total
no olho do furacão, na ilha da fantasia
?quanto vale a vida?

?quanto vale a vida na última cena
quando todo mundo pode ser herói?
?quanto vale a vida quando vale a pena?
?quanto vale quando dói?

são coisas que o dinheiro não compra
perguntas que a gente não faz:
?quanto vale a vida?

sábado, 11 de agosto de 2007

Começou 2007...


Foto: Vista da casa de Pablo Neruda


Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado: deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado.
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro...

Antonio Carlos Belchior

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

ABC do Repórter

A
vante, jovem repórter!
Vá com fé no seu caminho
Com a pauta do coração
Largue essa aí no escaninho
Dicas de plástica? Não!
Basta de assunto daninho


B
endito o seu fiel destino
Sempre avesso ao disparate
De falar sempre do rico
De Mileide, socialate
Se lá na Cohab não há
Dinheiro nem para o mate


C
uidado com o editor
Do que será que ele ri?
Será sorriso sincero
Ou mais fino bisturi?
Que corta a ânsia de justiça
Qual facão magro siri?


D
eixe a sua Musa o guiar
Acredite em seus sentidos
Se a sua alma disser que sim
Siga até de olhos cerzidos
A pauta boa já ressoa
Está no ar, em seus ouvidos


E
screva sobre o sem-voz
O largado à própria sorte
Sobre quem vira manchete
Apenas na hora da morte
Louvando quem bem merece
Ferindo ladrão de porte


F
uja dessa redação
Jornalismo sem a rua
É pura adivinhação
É só em foto ver a lua
Propaganda de cosmético
Viagem em furada falua


G
olpeie, só se necessário
Sua palavra é fogo, arma
De fino grosso calibre
O amor à Justiça, darma
Guerra, sonho, calma, rosa
Sua insatisfação, carma


H
oje, anteontem, amanhã
No seu caminho imutável
Sempre em busca da poesia
Na trilha do indispensável
Do fútil tem alergia
Acha o novo desconfiável


I
ncorruptível eterno
Pois não valoriza grana
Nem carro, nem luxo ou cargo
De sua convicção emana
Doce aroma, clara chama
Ao leitor jamais engana


J
ornalista que se preza
Pois trabalho é sacerdócio
Pelo bem da maioria
Com a pena não faz negócio
Texto não é moeda de troca
Nem momento de ser dócil


L
ide, prisão do bom texto
Sêmen da esterilidade
Eles dizem que é ciência
Para chegar à verdade
Mas você, repórter, sabe
Que é pura comodidade


M
eça toda a sua cidade
Ande muito, muito a pé
Ouça a voz que vem das dores
O grito mudo, sem fé
Jamais duvide do choro
Da Maria pelo Zé


N
amore sua realidade
Ela lhe espera lá fora
Ela lhe sorri, o chama
Reclama, por você implora
Não dê uma de cego, surdo
A Primavera já aflora


O
riente-se pelo céu
Seu amor, astronomia
Guie-se também pelo chão
Sua certeza, geografia
Seu sonho gira feito astro
Sua ação reta como guia


P
repare-se para o não
Para muita, muita pedra
E não tema, pois diz Tao
Palavra sábia, bem vedra:
O universo favorece os
Bons, a eles sempre medra


Q
uimera, ali é o seu reino
Onde reencontra igualdade
Jornalismo, amor, poesia
Sua suma Santa Trindade
Mas qual! Que triste surpresa!
Abre o olho, é só falsidade!


R
ealidade, exemplo da
Melhor grande reportagem
Jornalismo com poesia
O povo sem maquilagem
Texto com profundidade
Escrito após muita aragem


S
er a cada dia mais simples
Sábio, correto e sensível
É o único objetivo
Apalavrando o indizível
Emocionando a razão
Tingindo o supravisível


T
odas as formas, palavras
Sentimentos, sensações
Todos os ritmos, períodos
As vozes, interjeições
Jornalirismo: aqui pode
Tudo, menos restrições


U
mbrosos tornaram os campos
Mas brilhante o seu fino aço
Curvilíneos os caminhos
Mas retilíneo o seu traço
Estreitas as parcas sendas
Mas ampla a chã, seu regaço


V
irtuose em descobrir almas
Em revelar na entrevista
O melhor que há em cada um
Sempre garimpa a ametista
Onde tantos só acham breu
Do real é fiel retratista


X
eque-mate, 'match point'
Na falsa neutralidade
Jornalista tem sim lado
É fraude a sinceridade?
Boa a verdade do patrão?
Chega de passividade


Z
éfiro traz a Boa Nova
Vem aí outro jornalismo
Bem mais humano, mais real
Repórter salvo do abismo
De volta ao centro da rua
Vida sem ilusionismo.


***Podem me esperar... que eu estou voltando...***

segunda-feira, 30 de julho de 2007

"MISTÉRIOS GOZOZOS"



*
O "Cristo Redentor", uma das 7 maravilhas do mundo, grande coisa... Uma campanha de futilidades que mobilizou milhões de pessoas a votarem num cristo de pedra.

Grande coisa... O que ganharam com isto? O que ganhou o "Santuário Católico no Brasil", ou o que ganhou "O Cristo"? O que ganhou a estátua de pedra que segundo o jornalista Sérgio Augusto é justo que seja uma das “sete maiores armadilhas turísticas do mundo”? Ganhou o Brasil mais uma cortina para esconder que o mais vistoso cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro poderá em breve estar dominado pelo tráfico?

"Rocinha, a 8a maravilha do
IMUNDO"! - para que uma estátua de pedra? Uma estátua. Não come, não bebe, não tem necessidades humanas. O que ganhou "O Cristo"? Por que não comemoram a Rocinha, por exemplo??

A Torre de Babel, Pobre Cristo. Deu o azar Redentor de estar no alto do morro. Deve mesmo ter ganho mais uma cortina...

Panis et circenses...
Pão e circo...
"Pão e Cristo"!!


Desabafo de 07/Julho/2007


"...Estranho o teu Cristo, Rio, que olha tão longe além
Com os braços sempre abertos mas sem proteger ninguém..."

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A Festa acabou, vamos encarar a realidade.




Eu nasci num lugar muito bom. Lindo, localizado numa região privilegiada do Ceará, chamado por muitos de “oásis” do estado. Nós temos mata nativa, animais silvestres, uma Chapada fantástica em dimensão, beleza e diversidade, esoterismo e um apanhado de cultura incomensurável correndo nas veias dos que se consideram daquela terra (sim, nós temos os adotivos... ;-) ). É claro que o fato de estar no sangue das pessoas não significa dizer que todos se utilizem dos dons que a terra dos índios Cariris nos oferece – de graça.
O famoso “PÃO E CIRCO” chegou à minha terra. O mês de Julho, mês dos monopólios e da miséria do povo. Isso me dá certa tristeza, pois me remete imediatamente à situação do país como um todo desde as suas origens. Nós os deixamos entrar por educação ou por displicência. Somos o país da amizade e do esquecimento. E aí daqui a pouco vamos ter de pagar para respirar o oxigênio da Amazônia.

Isso me lembra um poema bastante conhecido de Maiakovski:"

"Primeiro, eles vêm à noite, com passo furtivo
arrancam uma flor
e não dizemos nada.

No dia seguinte, já não tomam precauções:
entram no nosso jardim,
pisam nossas flores,

matam nosso cão
e não dizemos nada.

Até que um dia o mais débil dentre eles
entra sozinho em nossa casa,
rouba nossa luz,
arranca a voz de nossa garganta
e já não podemos dizer mais nada."

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A PROJEÇÃO DO MAPA




É ainda meio estranha ‘pra mim a idéia de um diário virtual. Por isso iniciei este espaço com textos de pessoas que me estavam acompanhando quando surgiu a oportunidade de criá-lo. Na realidade, acredito que as chances de começar ou recomeçar projetos geralmente surgem em seu devido momento e, com isso senti vontade de mais uma vez ‘re-começar’ a escrever baseada no processo de renovação pelo qual passam meu corpo e mente nos tempos mais recentes.

Árdua é a tarefa de expressar sentimentos ou atividades cotidianas através de palavras, principalmente num espaço aberto ao mundo inteiro, confesso. Alguns de meus escritos antigos e diários foram queimados no período chamado por mim de ‘inquisição interna’, muitos justamente por receio de que alguém os visse - em especial textos de introspecção profunda ou cartas que nunca enviei ao destinatário.

Perdi o medo das palavras muito cedo em função de várias tentativas frustradas de ser entendida pelas pessoas. E apesar de achar que me seriam refúgio, aos 12 anos de idade elas começaram o processo de escravização em mim (e isto eu só percebi muitos anos depois). Daí em diante foram papéis, lápis e canetas gastos trabalhando para elas de forma voluntária sem perceber as correntes nas quais estava presa. Era gratificante para o meu íntimo, mas algo ainda faltava.

Um dia me dei conta (como sempre levando tombos ‘pra aprender) de que EU deveria exercer o domínio sobre elas ou deveríamos chegar ao consenso de nos utilizarmos de nós de maneira bilateral. E foi assim. Eu descobri que poderia desenvolver uma relação de amor e ódio com as palavras através de minha consciência da essência da Comunicação.  Passei a me amar e a respeitar meu corpo e mente.

E elas me libertaram.





domingo, 15 de julho de 2007

AOS MEUS AMIGOS




"Escolhi meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.  Fico com aqueles que fazem de mim um louco e santo.  Deles não quero respostas, quero meu avesso. Quero-os santos, para que não duvidem dos diferentes e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão estéril."


Oscar Wilde

sábado, 14 de julho de 2007

Confissões de Adélia



BILHETE DA OUSADA DONZELA


Jonathan,
há nazistas desconfiados.
Põe aquela sua camisa que eu detesto
- comprada no Bazar Marrocos -
e venha como se fosse pra consertar meu chuveiro.
Aproveita na terça que meu pai vai com minha mãe
visitar tia Quita no Lajeado.
Se mudarem de idéia, mando novo bilhete.
Venha sem guarda-chuva - mesmo se estiver chovendo -
Não agüento mais tio Emílio que sabe e finge não saber
que te namoro escondido e vive te pondo apelidos.
O que você disse outro dia na festa dos pecuaristas
até hoje soa igual música tocando no meu ouvido:
"Não paro de pensar em você."
Eu também, Natinho, nem um minuto.
Na terça, às duas da tarde,
hora em que se o mundo acabar eu nem vejo.

Com aflição,
Antônia

Pequeno Mapa do Tempo




"Eu tenho medo e medo está por fora, o medo anda por dentro do teu coração;
Eu tenho medo de que chegue a hora em que eu precise entrar no avião;
Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão;
Apertar o botão: cidade morta, placa torta indicando a contramão;
Faca de ponta e meu punhal que corta e o fantasma escondido no porão.

Medo, medo. Medo, medo, medo, medo.

Eu tenho medo que Belo Horizonte, eu tenho medo que Minas Gerais;
Eu tenho medo que Natal Vitória, eu tenho medo Goiânia Goiás;
Eu tenho medo Salvador Bahia, eu tenho medo Belém do Pará;
Eu tenho medo Pai, Filho, Espírito Santo São Paulo;
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A;
Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife;
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá;
Eu tenho medo estrela do norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará.

Medo, medo. Medo, medo, medo, medo

Eu tenho medo e já aconteceu, eu tenho medo e inda está por vir;
Morre o meu medo e isto não é segredo eu mando buscar outro lá no Piauí.

Medo, o meu boi morreu, o que será de mim? Manda buscar outro, maninha, no Piauí."





Belchior


"Conserve seu medo, mantenha ele aceso..."