segunda-feira, 30 de julho de 2007

"MISTÉRIOS GOZOZOS"



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O "Cristo Redentor", uma das 7 maravilhas do mundo, grande coisa... Uma campanha de futilidades que mobilizou milhões de pessoas a votarem num cristo de pedra.

Grande coisa... O que ganharam com isto? O que ganhou o "Santuário Católico no Brasil", ou o que ganhou "O Cristo"? O que ganhou a estátua de pedra que segundo o jornalista Sérgio Augusto é justo que seja uma das “sete maiores armadilhas turísticas do mundo”? Ganhou o Brasil mais uma cortina para esconder que o mais vistoso cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro poderá em breve estar dominado pelo tráfico?

"Rocinha, a 8a maravilha do
IMUNDO"! - para que uma estátua de pedra? Uma estátua. Não come, não bebe, não tem necessidades humanas. O que ganhou "O Cristo"? Por que não comemoram a Rocinha, por exemplo??

A Torre de Babel, Pobre Cristo. Deu o azar Redentor de estar no alto do morro. Deve mesmo ter ganho mais uma cortina...

Panis et circenses...
Pão e circo...
"Pão e Cristo"!!


Desabafo de 07/Julho/2007


"...Estranho o teu Cristo, Rio, que olha tão longe além
Com os braços sempre abertos mas sem proteger ninguém..."

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A Festa acabou, vamos encarar a realidade.




Eu nasci num lugar muito bom. Lindo, localizado numa região privilegiada do Ceará, chamado por muitos de “oásis” do estado. Nós temos mata nativa, animais silvestres, uma Chapada fantástica em dimensão, beleza e diversidade, esoterismo e um apanhado de cultura incomensurável correndo nas veias dos que se consideram daquela terra (sim, nós temos os adotivos... ;-) ). É claro que o fato de estar no sangue das pessoas não significa dizer que todos se utilizem dos dons que a terra dos índios Cariris nos oferece – de graça.
O famoso “PÃO E CIRCO” chegou à minha terra. O mês de Julho, mês dos monopólios e da miséria do povo. Isso me dá certa tristeza, pois me remete imediatamente à situação do país como um todo desde as suas origens. Nós os deixamos entrar por educação ou por displicência. Somos o país da amizade e do esquecimento. E aí daqui a pouco vamos ter de pagar para respirar o oxigênio da Amazônia.

Isso me lembra um poema bastante conhecido de Maiakovski:"

"Primeiro, eles vêm à noite, com passo furtivo
arrancam uma flor
e não dizemos nada.

No dia seguinte, já não tomam precauções:
entram no nosso jardim,
pisam nossas flores,

matam nosso cão
e não dizemos nada.

Até que um dia o mais débil dentre eles
entra sozinho em nossa casa,
rouba nossa luz,
arranca a voz de nossa garganta
e já não podemos dizer mais nada."

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A PROJEÇÃO DO MAPA




É ainda meio estranha ‘pra mim a idéia de um diário virtual. Por isso iniciei este espaço com textos de pessoas que me estavam acompanhando quando surgiu a oportunidade de criá-lo. Na realidade, acredito que as chances de começar ou recomeçar projetos geralmente surgem em seu devido momento e, com isso senti vontade de mais uma vez ‘re-começar’ a escrever baseada no processo de renovação pelo qual passam meu corpo e mente nos tempos mais recentes.

Árdua é a tarefa de expressar sentimentos ou atividades cotidianas através de palavras, principalmente num espaço aberto ao mundo inteiro, confesso. Alguns de meus escritos antigos e diários foram queimados no período chamado por mim de ‘inquisição interna’, muitos justamente por receio de que alguém os visse - em especial textos de introspecção profunda ou cartas que nunca enviei ao destinatário.

Perdi o medo das palavras muito cedo em função de várias tentativas frustradas de ser entendida pelas pessoas. E apesar de achar que me seriam refúgio, aos 12 anos de idade elas começaram o processo de escravização em mim (e isto eu só percebi muitos anos depois). Daí em diante foram papéis, lápis e canetas gastos trabalhando para elas de forma voluntária sem perceber as correntes nas quais estava presa. Era gratificante para o meu íntimo, mas algo ainda faltava.

Um dia me dei conta (como sempre levando tombos ‘pra aprender) de que EU deveria exercer o domínio sobre elas ou deveríamos chegar ao consenso de nos utilizarmos de nós de maneira bilateral. E foi assim. Eu descobri que poderia desenvolver uma relação de amor e ódio com as palavras através de minha consciência da essência da Comunicação.  Passei a me amar e a respeitar meu corpo e mente.

E elas me libertaram.





domingo, 15 de julho de 2007

AOS MEUS AMIGOS




"Escolhi meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.  Fico com aqueles que fazem de mim um louco e santo.  Deles não quero respostas, quero meu avesso. Quero-os santos, para que não duvidem dos diferentes e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças para que não esqueçam o valor do vento no rosto e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão estéril."


Oscar Wilde

sábado, 14 de julho de 2007

Confissões de Adélia



BILHETE DA OUSADA DONZELA


Jonathan,
há nazistas desconfiados.
Põe aquela sua camisa que eu detesto
- comprada no Bazar Marrocos -
e venha como se fosse pra consertar meu chuveiro.
Aproveita na terça que meu pai vai com minha mãe
visitar tia Quita no Lajeado.
Se mudarem de idéia, mando novo bilhete.
Venha sem guarda-chuva - mesmo se estiver chovendo -
Não agüento mais tio Emílio que sabe e finge não saber
que te namoro escondido e vive te pondo apelidos.
O que você disse outro dia na festa dos pecuaristas
até hoje soa igual música tocando no meu ouvido:
"Não paro de pensar em você."
Eu também, Natinho, nem um minuto.
Na terça, às duas da tarde,
hora em que se o mundo acabar eu nem vejo.

Com aflição,
Antônia

Pequeno Mapa do Tempo




"Eu tenho medo e medo está por fora, o medo anda por dentro do teu coração;
Eu tenho medo de que chegue a hora em que eu precise entrar no avião;
Eu tenho medo de abrir a porta que dá pro sertão da minha solidão;
Apertar o botão: cidade morta, placa torta indicando a contramão;
Faca de ponta e meu punhal que corta e o fantasma escondido no porão.

Medo, medo. Medo, medo, medo, medo.

Eu tenho medo que Belo Horizonte, eu tenho medo que Minas Gerais;
Eu tenho medo que Natal Vitória, eu tenho medo Goiânia Goiás;
Eu tenho medo Salvador Bahia, eu tenho medo Belém do Pará;
Eu tenho medo Pai, Filho, Espírito Santo São Paulo;
Eu tenho medo eu tenho C eu digo A;
Eu tenho medo um Rio, um Porto Alegre, um Recife;
Eu tenho medo Paraíba, medo Paranapá;
Eu tenho medo estrela do norte, paixão, morte é certeza
Medo Fortaleza, medo Ceará.

Medo, medo. Medo, medo, medo, medo

Eu tenho medo e já aconteceu, eu tenho medo e inda está por vir;
Morre o meu medo e isto não é segredo eu mando buscar outro lá no Piauí.

Medo, o meu boi morreu, o que será de mim? Manda buscar outro, maninha, no Piauí."





Belchior


"Conserve seu medo, mantenha ele aceso..."