quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Vou me afundar na lingerie

Vou me afundar na lingerie, baby
Me perder na relatividade das pequenas

Eu já nem sei seu telefone, baby
Não vou mais ter remédio para dor de cabeça, meu bem
Ainda bem que agora eu não tenho cabeça
Ame-me ou deixe-me em paz
Imagine só
Xuxu beleza
Tomate maravilha
É a última moda
Tô deslanchando, pé embaixo, baby
Chegou a hora do evasée, fairlane 500, baby
Eu vou mais é me afundar na lingerie
(Para mim, para mim)
Vou-me embora, vou para casa mais cedo
Hei, cuidado que cavalo não desce escada
Eu subo, desço
Paz e amor
Xuxu beleza
Tomate maravilha
É a última moda
A cidade e as serras me deslumbram, baby
Que horas são? Telefone pra você
(Para mim)
Quem já dançou sempre tem medo dos homens, baby
Eu vou mais é me afundar na lingerie

(Na maior, na maior)
Ainda bem que eu não tenho cabeça
Ame-me ou deixe-me em paz
Imagine só
Xuxu beleza
Tomate maravilha
É a última moda

Arnaldinho, só você me entende nesse momento... =) rindo muito...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Soltas...

Um homem pode atingir as alturas pelas mãos de um grande amor, mas é mais garantido se optar pelo elevador.

Silvio Ribeiro de Castro

Para quem ama, não será a ausência a mais certa, a mais eficaz, a mais intensa, a mais indestrutível, a mais fiel das presenças?

Proust

Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.

Rainer Rilke


sábado, 17 de outubro de 2009

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
– dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Agora eu durmo tarde
e acordo tarde
e as tardes são assim
pra mim, manhãs
que passam em velocidade
e ardem como o sol
que arde a madrugada inteira

Eu abro os olhos
eu olho as horas
eu molho os óculos
e ainda é agora

Eu cato conchas na geladeira
eu conto estrelas
depois que o dia nasce

Será tarde?

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

In my life


There are places I remember all my life,

Though some have changed,
Some forever, not for better,
Some have gone and some remain.

All these places had their moments
With lovers and friends I still can recall.
Some are dead and some are living.
In my life I've loved them all.

But of all these friends and lovers,
There is no one compares with you,
And these memories lose their meaning
When I think of love as something new.

Though I know I'll never lose affection
For people and things that went before,
I know I'll often stop and think about them,
In my life I'll love you more.

sábado, 12 de setembro de 2009

Resposta

E se fosse simples pensar como Fritz Perls do dia pra noite... rs
Vida boa mesmo é aquela na qual a gente sente e pronto, sem regras disso ou daquilo.

Se eu faço unicamente o meu

e tu o teu

corremos o risco de perdermos

um ao outro e a nós mesmos

Não estou neste mundo para

preencher tuas expectativas

Mas estou no mundo para me

confirmar a ti

Como um ser humano único para

ser confirmado por ti

Somos plenamente nós mesmos

somente em relação um ao outro

Eu não te encontro por acaso

te encontro mediante uma vida

atenta

em lugar de permitir que as coisas

me aconteçam passivamente

Posso agir intencionalmente para

que aconteçam

Devo começar comigo mesmo,

verdade,

mas não devo terminar aí:

a verdade começa a dois.


A.

Gestalt

Eu faço as minhas coisas e você faz as suas. Não estou neste

mundo para satisfazer as suas expectativas e você não está

neste mundo para viver conforme as minhas. Você é você, eu

sou eu. E se por acaso nos encontrarmos será maravilhoso. E

se não, não há nada a fazer.


Fritz Perls

terça-feira, 1 de setembro de 2009

É só uma gota de sangue em forma verbal

Hoje é um daqueles dias em que eu choraria rios e mares. Quando até o que deveria ser bom incomoda só pelo fato de existir. Tola... Não há mais lágrimas reais, ensinaram-me enganar o sofrer com o fim de não gastar a alma - fábrica de dor. E aí cessou a água dos olhos, essa tristeza que termina no papel ou no teclado, assim, perturbando. Certa vez um iceberg tomou conta do meu peito e a vida foi passando, como que pré-escrita, por cima das linhas tortas do destino, com excesso de brilho e ausência de sentimento. E foi pouco, parece, pelo que hoje retorna. E desta vez eu não tenho escolha.













"Loucura, não me repreenda, eu amei demais"

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sei que tudo é um jogo. Ou uma brincadeira, melhor. Às vezes um leilão de sentimentos. E quem dá mais por uma alma cansada de vagar sentindo dor? Eu pago o preço que custar para ser feliz de novo.

domingo, 9 de agosto de 2009

Insônia

Fotografias me fazem lembrar do momento exatamente como ele se deu. Engraçado, ultimamente parei na sessão nostalgia de me mandar para o passado e ver onde deixei meus pedaços. Alguns para trazer de volta, outros não, relembrar basta, como na canção, Basta de clamares inocência, de Cartola, belíssimamente interpretada por Elis Regina, aquela baixinha danada. Música é assim comigo, vai aparecendo no meio da história(rs).
Então hoje encontrei umas fotografias, dos tempos de uma Nikon analógica. A vida estampada em momentos estáticos. Como é possível que aquele papelzinho transporte-nos a lugares e tempos tão distantes? A fotografia eterniza tudo. Até aquilo que não queremos mais lembrar. Vou dormir que já é tarde.

O MORTO QUE CANTA

Há uma morte que vem de fora e uma morte que cresce por dentro. Cada uma delas produz uma dor diferente. Nas representações artísticas, como na tela terrível de Brueghel, a primeira que é representada - como cavaleiro de alfanje na mão. Ela chega sem ser convidada, como intrusa, nas mãos do assassino, no acidente que mata como um raio, na doença que entra e vai tomando conta do corpo, por mais que se tente mandá-la embora... Aparece como uma interrupção. No seu livro 'Lições de abismo', Gustavo Corção lamentava-se de que a vida não fosse como uma sonata de Mozart: curta, não mais que 20 minutos. E, no entanto, nesse curto tempo, tudo que há para ser dito é dito. Os últimos acordes nada interrompem. Apenas completam. O que se segue, então, é o silêncio da saudade, abençoadamente feliz, pois é o silêncio que vem depois da experiência da beleza. Que pena que a vida não seja assim... Pois o que acontece é que a sonata é abruptamente interrompida pela morte intrusa, um golpe de desarmonia bruta desferido por uma potência sinistra, surda à melodia que se queria cantar. E a sonata fica ali, quebrada ao meio, fragmento, caco, incompleta...
A morte do suicida é diferente. Pois ela não é coisa que venha de força, mas gesto que nasce de dentro. O seu cadáver é o seu último acorde, término de uma melodia que vinha sendo preparada no silêncio do seu ser. A primeira morte não foi um gesto; foi um acontecimento de dor. Mas no corpo do suicida encontra-se uma melodia para ser ouvida. Ele deseja ser ouvido. Para ele valem as palavras de César Vallejo: "su cadáver estava lleno de mundo". O seu silêncio é um pedido para que ouçamos uma história de cujo acorde necessário e final é aquele mesmo, um corpo sem vida.(...)"

Rubem Alves em 'O Quarto do Mistério'

segunda-feira, 27 de julho de 2009

No words

http://www.youtube.com/watch?v=fU-_Js_a8f0

Eu velejava em você
Não finja!
Como coisa que não me vê
E foge de mim...
A boca tremia,
Os olhos ardiam
Oh! Doce agonia
Oh! Dor de viver
De ver sua imagem
Que eu nunca via
Sua boca molhada
Seu olhar assanhado
Convite pra se perder
Minha alma cansada
Não faz cerimônia
Você pode entrar sem bater
Pois eu já velejei em você
E foi bom de doer
Mas foi, como sempre, um sonho
Tão longe, risonho
Sinto falta,
Queria lhe ver...

domingo, 19 de julho de 2009

O céu na foto é um pedaço de papel



Composição: Arnaldo Antunes e Jorge Benjor

Dinheiro é um pedaço de papel
O céu é um
O céu na foto é um pedaço de papel,
Pega fogo fácil
Depois de queimar dinheiro vai pro céu
Como fumaça
Também é fácil rasgar
Como as cartas e fotografias
Aí não se usa mais
Porque dinheiro é um pedaço de papel
Um pedaço de papel é um dinheiro
Dinheiro é um pedaço de papel
Pode até remendar com durex
Mas não é todo mundo que aceita
O que não se quer melhor não comprar
O que não se quer mais
Melhor jogar fora do que guardar em casa
Dinheiro tem valor quando se gasta
Um pedaço de papel é um pedaço de papel
Dinheiro não se leva para o céu

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sobre rosas

Não me batas mais aqui.
Não me condenes a te odiar.
Teu sorriso impune já não me convence
Nem me causa espanto.
Teus olhos não hão mais de me fitar
Nem a elas.
Mesmo sem que tu queiras
Aquela flor não era plástico.

terça-feira, 2 de junho de 2009

DIALÉTICA

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho
Cê sabe que a gente precisa entrar em contato
Com toda essa força contida e que vive guardada
O eco de suas palavras não repercutem em nada

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado, é...
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro
Evita o aperto de mão de um possível aliado
Convence as paredes do quarto, e dorme tranqüilo
Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz
Coragem, coragem, eu sei que você pode mais.

Lágrimas assim...

"Sobre lágrimas, tenho algo a dizer-lhe: toda mulher mentirosa, manipuladora, sem escrúpulos que conheci chorava com uma facilidade! Sabe, lágrimas que escorrem sem que a face se transforme, a pobre vítima do destino, da família, dos amigos, dos namorados. Um choro de novela, sem que a emoção transfigure a face e mostre a dor real que se sente. A partir da segunda vez, fiquei esperta para esse tipo de choro (...). Requerer a lágrima como atestado da verdade que se diz é ignorar completamente a natureza humana."

Luís Nassif, sobre o choro de Suzane, aquela que matou os pais por dinheiro

"Não confiem em mim. Eu não existo! Sou apenas o personagem que
diz isto"

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Eu sou EGO

Às vezes eu fico pensando... A reação que temos a determinadas situações em momentos diversos da vida em comunidade, a nossa relação com os outros. Como é possível esse agrupamento social, e de que maneira isto tende a formar aquilo que seremos à frente. Parece lógico, não? Isto se não se tratasse de uma mente recém saída de um calabouço.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Isso é para a dor...

Depois de um certo tempo observando tudo com um pouco de consciência, sentimo-nos livres do peso das dores. É bom falar sobre isto quando antes só havia o medo. Quanto a mim o amor não passou, no entanto, hoje, percebo a diferença entre sentir e saber sentir. Um dia é preciso viver no mundo da realidade para poder ser feliz. Feliz para sempre.




"MENTIRA é eu querer lhe enganar que - melhor que você - aprendi a ser só."

sexta-feira, 15 de maio de 2009


Eu ontem fui dormir toda encolhida, agarrando uns quatro travesseiros, chorando bem baixinho, bem baixinho, baby, pra nem eu nem Deus ouvir, fazendo festinha em mim mesmo como um neném, até dormir. Sonhei que eu caía do vigésimo andar e não morria, ganhava três milhões e meio de dólares na loteria, e você me dizia com a voz terna, cheia de malícia que me queria pra toda vida. Mal acordei, já dei de cara com a tua cara no porta-retrato... Não sei por que que de manhã toda manhã parece um parto... Quem sabe, depois de um tapa...
Eu hoje vou matar essa charada: Se todo alguém que ama, ama pra ser correspondido? Se todo alguém que eu amo é como amar a lua inacessível? É que eu não amo ninguém, ninguém. Não amo ninguém parece incrível! Não amo ninguém, e é só amor que eu respiro.

Cazuza.

Para mim. Para você. You Know.


domingo, 5 de abril de 2009

Sinto não ter de me explicar

"Vontade de ser sozinho sem grilo do que passou
A taça do mesmo vinho sem brinde, mas, por favor
Não é que eu não tenha amigos, não, não é que eu não dê valor
Mas hoje é preciso a solidão em nome do que acabou

Vontade de ser sozinho, mas por uma causa sã
Trocar o calor do ninho pelo frio da manhã
Valeu a orquestra, se valeu! Agora é flauta de Pã
Hoje é preciso a solidão com a benção do Deus Tupã
E a quem perguntar quando o vento sopra responda que já soprou
Mas o vento não traz resposta, acabou

A flecha que passa rente
Cantor implorando um bis
O cara que sempre mente
A feia que quer ser miss
Gaivota voando sob o céu
A letra que eu nunca fiz
Tudo é a mesma solidão
Mas dá pra se ser feliz
E a quem perguntar quando o vento sopra responda que já soprou
Mas o vento não traz resposta, acabou

E todo mundo é sozinho, e ai de quem pensar que não
A moça com seu vizinho, soldado com capitão
E resta a quem tá sem seu amor amar sua solidão
Hoje é preciso um uivo de lobo na escuridão
E a quem perguntar quando o vento sopra responda que já soprou
O vento não traz resposta, acabou."

Poesia de Oswaldo Montenegro

terça-feira, 31 de março de 2009

"Tomai vossa sede de amor como quiseres"


Podem até me tomar por instável, does not matter at all... Às voltas com fotografias antigas encontrei muitas peças de meus quebra-cabeças da vida. Lembranças guardadas como tristes ou doloridas deram espaço a atitudes renovadoras, de limpeza e purificação espiritual. O amor, a paixão, o apego, essas peculiaridades... tornam-nos melhor ou pior conforme o que decidamos viver.

Acho que é isto. =)

domingo, 22 de março de 2009

A memória e os segredos da mente

Por muito tempo privei-me de recordar pessoas e momentos que me deixaram infeliz. Hoje eu já posso com eles sem sofrer, sem remorsos. Diante de todo o crescimento que veio em conseqüência do que foi ruim, eu agradeço à vida pelas voltas que tive que dar antes de ter a plenitude do que é realmente valoroso e indispensável.

Ser feliz é simples. Queira.

Jeferson Perez e a luta contra a ignorância

http://www.youtube.com/watch?v=gwosRYCBQOw

E agora?

quarta-feira, 11 de março de 2009

“Usar drogas é uma escolha pessoal”

Quando Maria Lúcia Karam entrou no curso de direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, ainda existia o Estado da Guanabara e a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) era UEG (Universidade Estadual da Guanabara). Ela passou também no vestibular de psicologia e passou um ano fazendo os dois cursos. O ano era 1967, e o movimento estudantil estava em sua fase mais perigosa e mais ativa. Foi o engajamento mais fervoroso entre os estudantes de direito que fez Maria Lúcia optar por estudar a lei. Depois disso, ela pegou gosto. Tem três livros e vários artigos publicados sobre direito penal. A tese desenvolvida em De Crimes, Penas e Fantasias foi a que serviu de base para a argumentação do desembargador paulista que inocentou um portador de cocaína. Na mesma linha de raciocínio será Proibições, Riscos, Danos e Enganos: as drogas tornadas ilícitas, o livro que a juíza aposentada lançará no segundo semestre deste ano. Em entrevista a ÉPOCA, ela diz por que acredita que as drogas devem ser legalizadas.

ÉPOCA - Como a senhora chegou à conclusão de que as drogas ilícitas deveriam ser legalizadas?

Maria Lúcia Karam - Vendo que não há diferença entre consumo de álcool, tabaco, maconha, cocaína. Percebendo que usar uma ou outra é uma opção pessoal. Tem gente que gosta de tabaco e gente que gosta de maconha. E não tem nenhuma diferença, todas essas substâncias provocam alterações no organismo, no comportamento, então esse tratamento diferenciado dado pela lei não se justifica.

ÉPOCA - O mais coerente, então, não seria proibir todas?

Maria Lúcia - Coerente seria, mas seria muito pior. Aí, até café teria que ser proibido.

ÉPOCA - Por que seria pior?

Maria Lúcia - A proibição significa a total ausência de controle. Um dos grandes enganos do discurso proibicionista é pretender que a proibição seja uma forma de controlar a circulação das drogas. Mas ocorre justamente o contrário. Quando o mercado é ilegal, ele é totalmente descontrolado, porque não está submetido a nenhuma regulamentação. Causa maiores danos à própria saúde, que é o pretexto dos proibicionistas para criminalizar essas condutas.

ÉPOCA - Por que a proibição causa mais danos à saúde?

Maria Lúcia - Porque as drogas são substâncias que podem potencialmente causar danos à saúde e não são submetidas a nenhum tipo de controle de qualidade, ao contrário de qualquer outro produto, como, por exemplo, gêneros alimentícios, que são submetidos ao controle da agência de vigilância sanitária. Além disso, a ilegalidade dificulta a busca de assistência quando se faz efetivamente necessária, porque você vai ter que revelar uma conduta que é considerada ilícita. Pessoas que acompanham alguém que teve overdose têm receio de levá-la ao hospital. Dificulta o diálogo com pais, professores, o acesso à informação.

ÉPOCA - A senhora acha que a sociedade está madura para conviver com a legalização?

Maria Lúcia - A proibição dessas drogas que hoje são ilícitas é uma coisa que só surgiu globalmente no século XX. Elas sempre foram usadas e nunca foram proibidas. Então, a humanidade está madura para a legalização desde que ela existe.

ÉPOCA - A senhora não acha que muitas pessoas deixam de usar as drogas justamente por serem ilícitas?

Maria Lúcia - Acredito que isso não faz tanta diferença. Em uma pesquisa feita recentemente nos Estados Unidos em que se perguntava para os não-usuários de heroína e cocaína se eles passariam a consumir essas drogas se fossem legalizadas, 99% dos entrevistados responderam que não.

ÉPOCA - Se o vício for encarado como uma doença, isso, não justificaria o fato de o Estado proibir a droga ou adotar medidas de tratamento compulsório?

Maria Lúcia - Não acho que a droga e o vício sejam doenças. Eventualmente, você vai ter casos de dependência, mas que são, geralmente, uma manifestação de um problema anterior. Não existe dependência só de droga, pode ser dependência do trabalho, de uma pessoa, causada por um desconforto anterior, e é esse desconforto que precisa ser tratado. Cada pessoa usa drogas de formas diferentes. E a mesma pessoa também usa de forma diferente dependendo do momento que ela está vivendo. As pessoas podem beber mais num dia em que estão tristes, ir a um jantar e tomar só um vinho, ou ir a uma festa e beber um pouco mais.

ÉPOCA - Isso não vai aumentar os gastos públicos com saúde?

Maria Lúcia - Isso não deve mudar muito. Houve um exemplo relativamente recente nos Estados Unidos. Quando eles acabaram com a lei seca, em 1932, registrou-se um ligeiro aumento do consumo, mas, com o passar dos anos, ele se estabilizou e voltou aos mesmos índices de antes da proibição. Por outro lado, diminuíram os atendimentos hospitalares relacionados ao uso do álcool. Porque a bebida proibida era de pior qualidade.

ÉPOCA - E a criminalidade, é maior em países com maior tolerância ao consumo, como a Holanda?

Maria Lúcia - Não. A Holanda é um dos países com menor índice de criminalidade do mundo. Em 2004, por exemplo, o índice de homicídios foi de 1,27 por cem habitantes. A média de homicídios na União Européia é 1,4.

ÉPOCA - Um outro tipo de criminalidade, aquela causada, por exemplo, por um viciado em cocaína que rouba para sustentar o vício, não deve aumentar?

Maria Lúcia - Isso acontece mais na ilegalidade. Como a droga é ilícita, é mais difícil de conseguir e é mais cara. E precisa ser comprada escondido. Um adolescente não tem como pedir dinheiro para o pai para comprar cocaína. Num ambiente de legalidade, ele conseguiria dinheiro de uma forma natural, da mesma forma como o pai dá dinheiro para um menino comprar um chope num sábado à noite. A tendência é diminuir a criminalidade não só na venda, mas também do lado do consumo.

ÉPOCA - A senhora tem filhos?

Maria Lúcia - Tive uma filha que morreu aos 15 anos num acidente de carro. Faria 35 este ano. Não tinha ninguém alcoolizado ao volante, não teve nada a ver com drogas.

ÉPOCA - A senhora defende que ela deveria poder experimentar cocaína, como qualquer adolescente experimenta hoje álcool?

Maria Lúcia - Certamente. Como muitos colegas dela já experimentaram, por exemplo, maconha.

ÉPOCA - A senhora já provou alguma droga?

Maria Lúcia - Lícita? Tabaco, álcool, cafeína.

ÉPOCA - E ilícita?

Maria Lúcia - Cocaína e maconha. Mas não gostei. Prefiro um vinhozinho.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A polêmica continua

"Essa história de guerra contra as drogas não resolve", e assim o Fernando Henrique sintetizou toda a história. Não chega a lugar nenhum a política de proibição, mesmo com investimento em 'segurança' os criminosos continuam avançando, é fato. O problema da maconha não é o uso, mas o crime organizado que faz sua distribuição, é um erro achar que a repressão vai acabar com isso se um nem outro diminuíram. O tráfico de armas e de cocaína, principalmente, é que cresce em poder e controle. Não adianta mais falar que se descriminalizar vai aumentar o consumo, porque quem quer fumar maconha não deixa de fazer porque tem que recorrer ao comércio ilegal. Tudo bem, a descriminalização não poria fim ao tráfico; a pirataria de cds, dvds, e outras mídias ou mesmo cigarros de tabaco e bebidas nunca acabou, mas certamente diminuiria com a regulamentação e fiscalização pelo governo a fim de mudar o destino dos lucros advindos do cultivo e produção da planta. O que está errado na lei 11343 é ainda considerar o usuário um criminoso -ele está sujeito a penas alternativas- pela alegativa MORAL de que é droga ilícita, faz mal ao corpo. Se fosse assim, diversas substâncias maléficas hoje regulamentadas deveriam ser proibidas, já que a tendência é a repressão? Acho isso um retrocesso social.